– “Até os romances estúpidos trazem uma verdade”.
Esta é uma das frases marcantes em “Coco, antes de Channel”. E é com ela que gostaria de refletir uma enxurrada de críticas negativas sobre o filme.
Muitas delas estão destruindo “Coco, antes de Channel” por ele não citar a colaboração da lendária estilista com regime nazista.
Como o próprio nome do filme sugere, a produção é sobre o início da carreira de Gabrielle Bonheur Chanel, antes dela se tornar referência na moda no mundo inteiro.
Nesse propósito, o filme costura a história nos primórdios de 1900. Por isso, é incoerente fuzilar a diretora Anne Fontaine, por ela não citar esse detalhe da biografia de Channel.
Por essas e outras que o espectador TAMBÉM NÃO VAI ENCONTRAR a paixão de Channel por um príncipe russo pobre, sua amizade com Greta Garbo, Pablo Picasso e Luchino Visconti, o desenvolvimento dos perfumes e dos tailleurs, e o romance com um oficial alemão, circunstância primordial para sua participação na aliança nazista.
Além do mais, “Coco antes de Chanel” vale a pena ser visto mesmo sendo um filme simples, com uma narrativa convencional e nada de surpreendente em técnicas de cinema.
Sabe aquela roupa básica, sem estampa, sem desenhos fantásticos, sem cortes modernos e que tudo mundo gosta de usar de vez em quando? Então, o filme cabe nesse modelito. Quase vira um pijama.
Um dos elementos interessantes é a parceria entre a diretora e a figurinista Catherine Leterrier. Resultado: a incontestável tradução de uma época de elegância.
Um trabalho bem delineado ao apresentar como Channel se inspirava e exercia a arte da costura. Ela inventou as primeiras calças femininas, em um momento em que as mulheres usavam vestidos e chapéus espalhafatosos.
A sua capacidade nata de observação era fascinante. Detalhe: ela nunca passou por uma faculdade. É notável observar também a ousadia da estilista numa época em que a mulher trabalhadora era mal vista. E ainda algumas eram usadas como penduricalho sexual ou manequim doméstico.
A sua história pode lembrar um pouco a da cantora Édith Piaf, ambas com uma trajetória marcada por dificuldades financeiras, amores mal resolvidos e tragédias, por isso, as comparações com o filme “Piaf – Um hino ao amor” são inevitáveis. Inclusive, com relação as duas atrizes que imortalizaram personagens tão complexas: Marion Cottilard, como Piaf, e Audrey Tatou, como Coco Channel.
Porém, há de se lembrar que são mulheres de temperamentos completamente diferentes, por isso a interpretação vem com sintonia distinta. E Tatou deu conta do recado mostrando uma Channel forte, levemente autoritária, calculista, ousada e aborrecida.
Mas nem tudo no filme são plumas e paetês. Se faltou na diretora a irreverência da personagem, sobraram planos comedidos e cenas de romantismo aflorado. Seguiu a receita do folhetim novelesco. Mesmo assim, vale o ingresso, principalmente pelas frases memoráveis de madame Channel:
– “Uma mulher apaixonada é uma cadela submissa”.
– “Crianças abastadas e educadas como você viram pessoas infelizes e retardadas”.
– “Tenho um senso de mau gosto” .
– “Sempre soube que não seria a esposa de ninguém…mas às vezes eu esqueço”.
– “A pior coisa de um casamento é o casal”
Oi, Átila!Te daria razão sobre o filme ter sido escrito antes de Coco virar famosa se, na legenda final, não viesse escrito sua vida até o fim. ali, na legenda, deveria sim aparecer o envolvimento de Coco com o nazismo, já que, repito, resume sua vida até sua morte em 1971.
Huum vou ter que ver novamente e agraciá-lo pela ponderação. Valeu!